Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

quinta-feira, 7 de junho de 2012

BARROS, Elaine; GOMES, Luciano; DOURADO, Túlio. A norma culta da língua portuguesa. Maio, 2012.






A NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA





Elaine Barros


Luciano Gomes


Túlio Dourado


Alunos de Letras Português/Inglês – 5º período








RESUMO: Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma distinção entre a norma culta e a norma padrão brasileira e conceituar as normas linguísticas. Fazer algumas Reflexões acerca da norma culta e o problema de nivelar a norma culta com a fala, bem como misturar norma culta com norma padrão, trabalhando as diferentes aplicações do conceito da norma culta brasileira que é diferente da norma culta de Portugal.





INTRODUÇÃO: Inicialmente iremos conceituar a norma para melhor entendimento das normas lingüísticas. Norma entende-se por: regras de procedimento; princípios; preceitos; direção; modelo; padrão; teor de vida; linguisticamente norma é o uso padrão, relativamente estabilizado tradicional ou socialmente, que se faz de uma determinada língua dentro de uma comunidade linguística. A Norma é um uso linguístico concreto e corresponde ao dialeto social praticado pela classe de prestígio, representando a atitude que o falante assume em face da norma objetiva. A existência da normatização não se dá por razões apenas linguísticas, mas também culturais, econômicas, sociais, ou seja, a Norma na língua origina-se de fatores que envolvem diferenças de classes, poder, acesso a educação escrita, e não da qualidade da forma da língua. Segundo Lucchesi (1994, 2001), considera-se que a realidade linguística brasileira deve ser entendida como um contínuo de normas, dentro do quadro de bipolarização do Português do Brasil.





Palavras-Chave: Norma culta brasileira, Norma culta Portugal, fala.





            Ao labutarmos nas pesquisas da norma padrão descobrimos que a questão não está apenas em lançar mão de um cânon lexical, como que se valendo de um acervo de palavras do idioma português no Brasil, e determinar etimologicamente o significado das palavras considerando os fatores socioculturais. Faraco chega a esta mesma conclusão da complexidade de determinar um método de investigação que seja conclusivo:


[A questão da chamada norma-padrão é certamente das mais complexas no campo das investigações linguísticas. Quando nos embrenhamos em seu estudo, fica logo evidente que não se trata apenas de recortar um conjunto determinado de expressões da língua, como se o fenômeno sociocultural do padrão se resumisse a um problema exclusivamente de vocabulário e estruturas gramaticais].


(FARACO, 2002, p. 40 - 41,)


            Aliado a isto, imaginemos se laborarmos no erro de recortarmos um conjunto de expressões da língua portuguesa e aplicarmos a norma culta brasileira e a norma culta portuguesa. Conforme (ILARI 2007) tratando do português de Portugal depois do século XVII, como aplicar a norma culta brasileira, a variação diacrônica pelo qual passou a expressão de tratamento você que foi etimologicamente originário da expressão "vossa mercê", que era um tratamento dado a pessoas às quais não era possível se dirigir pelo pronome tu como reis e autoridades. Esta expressão que evoluiu sucessivamente: VossemecêÞvosmecêÞ vancêÞvocê. O século XVII foi um período de intensas mudanças estruturais na língua portuguesa falada em Portugal, Ilari fala dessas várias influências:


[A própria dominação espanhola foi um desses fatos, pois com que o espanhol fosse falado pela aristocracia portuguesa (Paul Teyssier chega inclusive a comentar que, na época, se criou uma maneira “alusitanada” de falar castelhano).]


(Ilari, 2007, p. 43-44)


            Paul Teyssier confirma que este bilinguismo luso-espanhol ainda que influenciasse profundamente grandes escritores portugueses como: Gil Vicente, Sá de Miranda, Luís de Camões, Francisco Manuel de Meio. Não influenciou na norma culta de Portugal e que seus traços distintivos característicos foram conservados intactos. Isto só reforça o argumento que a Norma Culta brasileira é diferente da Norma culta de Portugal e que diacronicamente elas conservaram-se distintas.


[Aliás, deve-se advertir que o espanhol dos nossos portugueses tinha características bem peculiares. Era pronunciado com sotaque local e, além disso, a sua morfologia e a sua sintaxe afastavam-se frequentemente da norma do país vizinho [...]


(TEYSSIER, 2010, p.32)


            Como distinguir norma culta e norma padrão? Segundo Faraco (2002, p.39), a norma culta diz respeito à variedade utilizada pelas pessoas que têm mais proximidade com a modalidade escrita e, portanto, possuem uma fala mais próxima das regras de tal modalidade. Com usamos a nomenclatura norma culta. Damos o nome de norma ao conjunto de regras impostas, pela comunidade linguística, que determinam um padrão de linguagem a ser seguido pelos falantes.


            Dentre os vários usos que cada falante faz de sua própria língua, escolheu-se um que se convencionou chamar de norma. A escolha de um determinado uso para transformá-lo em norma ou, em outros termos, em linguagem padrão é arbitrária e quase sempre definida por uma elite. Escolheu-se um determinado uso, que foi elevado à categoria de norma, por acreditar-se que esse uso representaria a forma culta de utilização da língua, o chamado bom uso, razão pela qual acaba recebendo o status de norma culta.


            Por sua vez a norma padrão seria aquela carregada de preconceitos em relação às demais variedades e que tem como objetivo como o próprio nome diz a padronização da língua, considerando tudo o que é diferente a ela como errado. (Faraco 2002, p.40). O problema de nivelar a norma padrão foi exposto por Ilari, que tenta desmitificar a ideia que o português do Brasil é uma língua uniforme:


[Já se disse várias vezes que o português do Brasil é uma língua uniforme. Sua uniformidade foi afirmada e elogiada por pessoas de diferentes formações – escritores, historiadores e linguistas. Mas a uniformidade do português brasileiro é em grande parte um mito, para qual contribuíram 1) Um certa forma de nacionalismo 2) Uma visão limitada do fenômeno linguístico, que só consegue levar em conta a língua culta; e 3) uma certa insensibilidade para a variação, contrapartida do fato de que os falantes se adaptam naturalmente a diferentes contextos de fala.]                                                                                    


                                                                                                                          (Ilari, 2007, p.151)


            O mito da uniformidade é fragmentado diacronicamente por algumas razões óbvias, primeiramente a língua não é um fenômeno estático, as palavras com o passar do tempo perdem o sentido para alguns, este fenômeno é identificado como Variação Diacrônica. Não falamos hoje como falávamos há alguns anos; em todas as gerações, os jovens sempre falam diferente dos velhos, têm outras preferências vocabulares e de construção nas frases e até pronúncias distintas.


            Assim, em cada momento da história de uma língua, encontram-se arcaísmos e neologismos. Os arcaísmos são vocábulos ou construções sintáticas que deixaram de ser usados. Por exemplo, palavras como alpendre, supimpa, outrossim, são arcaicas, podendo ainda ser ouvidas, talvez, apenas na boca dos mais idosos. Em alguns casos, por exemplo, a construção de frases como: Ninguém não veio e ambos os dois, são hoje, expressões consideradas incorretas pela gramática normativa, que as caracteriza como um caso de pleonasmo, redundância a ser evitada. Observe exemplos de variações diacrônicas no neologismo:


 [Os neologismos são os novos vocábulos que não ocorriam em gerações anteriores com o mesmo significado, ou que são recuperados com diferentes valores semânticos. Ex: Conectar, clicar, xerocar, scanear etc. Em função do desenvolvimento científico, novos conceitos e técnicas surgem, exigindo caracterização linguística. Os novos vocábulos podem ser formados a partir de recursos da própria língua ou por empréstimo. Até metade do século XX, grande parte das novas palavras incorporadas ao léxico da língua portuguesa era de origem francesa (galicismos), pois a França exercia grande influência cultural sobre o Brasil. Palavras como abajur, chofer, champanhe, menu, charme, chique, butique, guichê integraram-se ao português nessa época.]


(MAIA, 2006, p.168-169)





Vejamos agora algumas discursões que iremos rememorar três obras literárias brasileiras:





“Pronominais





Dê-me um cigarro


Diz a gramática


Do professor e do aluno 2


e do mulato sabido


Mas o bom negro e o bom branco


Da Nação brasileira


Dizem todos os dias


Deixa disso camarada


Me dá um cigarro.”


ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.





“ [...]


Certamente meu pai usara um horrível embuste naquela maldita manhã, inculcando-me


a excelência do papel impresso. Eu não lia direito, mas, arfando penosamente,


conseguia mastigar os conceitos sisudos: ‘A preguiça é  a chave da pobreza – Quem não


ouve conselhos raras vezes acerta – Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém’.


Esse Terteão para mim era um homem, e não pude saber que fazia ele na página final da


carta. As outras folhas se desprendiam, restavam-me as linhas em negrita, resuma da


ciência anunciada por meu pai.


– Mocinha, quem é o Terteão?


Mocinha estranhou a pergunta. Não havia pensado que Tertão fosse homem. Talvez


fosse. ‘Fala pouco e bem: ter-te-ão por alguém’.


– Mocinha, que quer dizer isso?


Mocinha confessou honestamente que não conhecia Terteão. E eu fiquei triste,


remoendo a promessa de meu pai, aguardando novas decepções. ”


[...]


RAMOS, Graciliano. Infância. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995. 





 “VÍCIO NA FALA





Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió


Para pior pió


Para telha dizem teia


Para telhado dizem teiado


E vão fazendo telhados”


ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.








     Os textos acima, bastante conhecidos, são pertinentes para se ilustrar as posições defendidas neste estudo. No poema de Oswald de Andrade, tem-se uma ilustração do quanto que a fala brasileira dita culta está distante do artificialismo existente na prescrição gramatical adotada pela escola. Já o poema Vício na fala, também de Oswald, converte-se num convite à reflexão acerca do preconceito que as classes populares sofrem em relação às suas falas, muito distantes da utilizada na cultura letrada, esta normatizada por padrões lexicais, gramaticais e fonológicos e, até mesmo, ideológicos distintos da norma popular. No trecho do romance Infância, de Graciliano Ramos, por sua vez, ratifica-se que a norma padrão veiculada na e pela escola não condiz com o padrão culto real brasileiro (CASTILHO, 2002), ou ainda,com a norma objetiva do português culto brasileiro (REY, 1972), no que diz respeito às falas das pessoas em contato com o letramento.  Assim, este estudo é iniciado com uma discussão teórica acerca dos conceitos de norma padrão e norma culta.





     A existência da civilização dá-se com o surgimento da escrita. Suas regras são pautadas a partir da Norma Culta. Sendo esta importante nos documentos formais que exigem a correta expressão do Português para que não haja mal entendido algum. Ela nada mais é do que a modalidade lingüística escolhida pela elite de uma sociedade como modelo de comunicação escrita e verbal. A Norma Culta é uma expressão empregada pelos linguistas brasileiros para designar o conjunto de variantes linguísticas efetivamente faladas, na vida cotidiana pelos falantes cultos, sendo assim classificando os cidadãos nascidos e criados em zonas urbanas e com grau de instrução superior completo. "Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem a classe ilustrada põe o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático e consagrou". (ROCHA LIMA, 1989, p. 6).


     Dentre as características que são pertinentes à Norma Culta podemos citar que é: a variante de maior prestígio social na comunidade, sendo realizada com certa uniformidade pelos membros do grupo social de padrão cultural mais elevado; cumpre o papel de impedir a fragmentação dialetal; ensinada pela escola; usada na escrita em gêneros discursivos em que há maior formalidade aproximado-a dos padrões da prescrição da gramática tradicional; a mais empregada na literatura e também pelas pessoas cultas em diferentes situações de formalidade. De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa formal, buscará seguir as regras da norma explícita de sua língua e ainda procurará seguir, no que diz respeito ao léxico. Isso configura o que se entende por norma culta.


                                                                                                                                                                            


    A Norma Padrão está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições representadas na gramática, mas é marcada pela língua produzida em certo momento da história e em uma determinada sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes formas de linguagem que hoje não são consideradas pela Norma Padrão, com o tempo podem vir a se legitimar. Dentro da Norma Padrão define-se um modelo de língua idealizada prescrito pelas gramáticas normativas, como sendo uma receita que nenhum usuário da língua emprega na fala e raramente utiliza na escrita. Sendo também uma referência para os falantes da Norma Culta, mas não passam de um ideal a ser alcançado, pois é um padrão extremamente enriquecido de língua. Assim, as gramáticas tradicionais descrevem a Norma Padrão, não refletindo o uso que se faz realmente do Português no Brasil. Marcos Bagno propõe, como alternativa, uma triangulação: onde a Norma Popular teria menos prestígio opondo-se à Norma Culta mais prestigiada, e a Norma Padrão se eleva sobre as duas anteriores servindo como um ideal imaginário e inatingível.


     A Norma Padrão subdivide-se em: Formal e Coloquial. A Padrão Formal é o modelo culto utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais. Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como porque é supervalorizada na nossa cultura. É a história do vale o que está escrito. Já a Padrão Coloquial é a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, embora exista, a permissividade com relação às transgressões é pequena. Na visão de Preti (1999 a., p. 33), os falantes cultos "até em situação de gravação consciente revelaram uma linguagem que, em geral, também pertence a falantes comuns". Sendo mais espontânea e criativa, a Norma Popular se afigura mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, alguns exemplos: estou anciosa (Norma Culta); to anciosa (Norma Popular).





CONSIDERAÇÕES FINAIS:





     O trabalho aqui desenvolvido teve como objetivo dar um parecer sobre as Normas Linguísticas em geral, destacando as Normas: Culta e Padrão a partir de suas especificidades e características. Constatamos que a Norma Culta é utilizada, principalmente, pela elite e por pessoas que possuem um grau de instrução superior completo; já Padrão é a língua modelo que segue as normas gramaticais, sendo que uma das suas particularidades é a flexão que essa língua apresenta dentro da comunidade social em que ela está inserida. Finalizando, devemos levar em consideração as normas aqui apresentadas no sentido de que sirvam para diferenciar e regulamentar os variados níveis da linguagem.





Referências bibliográficas


FARACO, Carlos Alberto. Ensinar X não ensinar gramática: ainda cabe esta questão? Calidoscópio, São Leopoldo (RS), volume 04, 2002;


Ilari, Rodolfo e Basso, Renato. O PORTUGUÊS DA GENTE a língua que estudamos a língua que falamos, São Paulo: Contexto, 2007;


TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa, Ed. Martins Fontes, 1ª Edição, São Paulo, 2007;


MAIA, Marcos. Manual de Linguística: subsídios para formação de professores indígenas na área de linguagem. Ministério da Educação, Brasília, 2006.





Internet:


 Norma Linguística. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Norma_(linguistica). Acesso em: 27/05/2012;


Qual é a diferença entre a norma gramatical, a padrão e a culta? Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/qual-diferenca-norma-gramatical-padrao-culta-451223.shtml. Acesso em: 27/05/2012;




Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Disponível em: www.infopedia.pt/lingua_portuguesa/norma. Acesso em: 27/05/2012;


Conceito de Norma. Disponível em: http://pt.shvoong.com/books. Acesso em: 27/05/2012. BAGNO, Marcos;


A Norma Oculta. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

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