Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

Alunos do 5º Período do Curso de Letras Da Faculdade São MIguel

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Estudo Dirigido


Curso de Letras- Faculdade São Miguel

LITERATURA BRASILEIRA II

4º período - Prof. Ms Jefferson Souza

Luciano Gomes eTúlio Dourado.



1. Discorra sobre a noção de Realismo de Machado de Assis e a concepção de leitor na obra desse autor.



            Inicialmente é adequado destacar as concepções de leitor antes mesmo de falar dos leitores machadianos do séc. XIX. Segundo COSSON (2006) A concepção de leitor é daquele que abre uma porta entre os mundos do autor e leitor. Estes mundos precisam essencialmente de uma via de comunicação direta para que a atividade literária prossiga fluindo neste trânsito, o meu mundo de autor deve permitir que o mundo do leitor seja aberto a compreensão e reflexões para que a leitura faça sentido; sobre este trânsito se diz:



“Ao ler, estou abrindo uma porta entre meu mundo e o mundo do outro. O sentido do texto só se completa quando esse trânsito se efetiva, quando se faz a passagem de sentidos entre um e outro. Se acredito que o mundo está absolutamente completo e nada mais pode ser dito, a leitura não faz sentido para min... O bom leitor, portanto, é aquele que agencia com os textos os sentidos do mundo, compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um monólogo.” [COSSON, 2006, p.27]



            É provável que a dificuldade dos leitores machadianos de sua época seja a mesma dos leitores contemporâneos. E Que a suposta ausência de valorização do público do século XIX dos textos literários seja um reflexo da falha da compreensão deste concerto de vozes no texto literário e não somente a insuficiência de formação intelectual e analfabetismo conforme nos informa GUIMARÃES 2004, “que o senso demográfico de 1876 havia uma falta de leitores por conta do alto índice de analfabetismo em torno de 83% da população”, de sorte, que carece de leitores idealizadores de leitores empíricos conforme diz: “O leitor não esquece suas próprias dimensões, mas expande as fronteiras do conhecido, que absorve através da imaginação mas decifra por meio do intelecto.” (ZILBERMAN, 2008).



            O próprio Machado faz uma crítica aos seus leitores pela forma como eles fechavam a porta entre o seu mundo e o dos leitores, o bom leitor segundo COSSON é aquele que agencia com os sentidos do mundo, como é que podemos compreender as obras machadianas se não agenciamos os sentidos do mundo de Machado? Como podemos compreender o mundo machadiano se limitamos e enquadramos seu estilo literário baseado nas influentes escolas literárias de sua época? Como os leitores machadianos fechavam as portas deste mundo literário? Machado é enfático:

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... “ [MACHADO DE ASSIS, 2008 - Capítulo LXXI: O senão do livro]

            Além de todos os fatores que dificultavam os leituras de Machado como já dissemos podemos destacar a própria herança estética dos romances que levavam as pessoas a um “vício de leitura” que constituiram a maior dificuldade na popularização das suas obras. Machado é claro quando afirma que:o maior defeito deste livro és tu, leitor”. O leitor romântico inclinava-se a enquadrar a leitura de machado a simples narrativa direta e estilo regular, a resposta de Machado era: “o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham...” Ele brinca com o texto e consequentemente com o leitor viciado.Em suma a proposta estética de Machado quebrou ou pelos menos foi esta tentativa; o paradigma do leitor “romântico viciado”

            O “realismo machadiano” foi um marco na literatura brasileira, embora o problema da impostrura realista em machado persista e seja motivo de apopléticos embates entre os críticos mais renomados, é fato que esta noção estética de realismo definida nas escolas literárias ainda seja imprecisa para enquadrar o estilo e escola literária a que pertençe o velho “precursor do realismo” no Brasil. Mais difícil que atribuir adjetivos que justifiquem sua estética literária é jogar com o seu estilo próprio, é jogar com o seu jogo, autor e leitor, é agenciar com os sentidos do mundo machadiano, compreender Machado é ser regido pelo concerto de muitas vozes na diversidade literária de suas obras.

2.  Levando em consideração o romance Germinal, de Zola, como também algumas apreciações críticas referentes a estética naturalista, disserte sobre os princípios dessa obra.



            Foi por consequência do nefasto crescimento do progresso que os naturalistas começam a desenvolver uma análise crítica das classes marginalizadas, miseráveis, produto, talvez, direto da industrialização. Na obra Germinal, Zola vem denunciar as míseras condições de trabalho dos mineradores de carvão da Voreux localizada na pequena cidade de Marchiennes à de Montsou.



            Observamos no livro a enorme diferença social. Os diretores da Voreux, a família burguesa, se aproveitam do trabalho da classe menos favorecida e enriquecem cada vez mais.O foco desta obra está na classe marginalizada, como manda o naturalismo, que vive em condições terríveis. A exemplo do personagem, Boa Morte que trabalhou por mais de cinquenta anos no minério e seu corpo já estava todo tomado de carvão. Várias famílias trabalhavam para conseguir sobreviver, viver de pão e água. Era uma situação de pobreza extrema.



            O diferencial nesta obra de Zola é que relata a revolta da classe trabalhadora, que insatisfeita começa a lutar pelos seus direitos. O personagem Étiene passa a conhecer o universo dos mineradores e junto a Maheu, um dos principais personagens, organiza reuniões e conquista vários trabalhadores para um grande movimento grevista. A greve não foi bem sucedida, várias pessoas morreram e nada, além disto, foi conquistado. A exemplo de outra obra naturalista de Zola, observamos o prefácio da segunda edição da obra ThérèseRaquin:



“Em ThérèseRaquin, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está todo o livro. Escolhi personagens soberanamente dominados pelos nervos e pelo sangue, desprovidos de livre arbítrio, arrastados em cada ato de suas vidas pelas fatalidades da própria carne. Thérèse e Laurent são animais humanos, nada mais. Procurei acompanhar nesses animais o trabalho surdo das paixões, as violências do instinto, os desequilíbrios cerebrais ocorridos na sequência de uma crise nervosa. (...) Começa-se, espero, a compreender que o meu objetivo foi um objetivo científico antes de tudo. (...) Que se leia o romance com cuidado e ver-se-á que cada capítulo constitui o estudo de um caso curioso de fisiologia. Numa palavra, não tive senão um desejo: considerando um homem vigoroso e uma mulher insaciada, procurar neles o animal, e mesmo ver unicamente o animal, lançá-lo num drama violento, e observar escrupulosamente as sensações e os atos desses seres. Eu simplesmente fiz com os seres vivos o trabalho que os cirurgiões fazem com cadáveres.” [Émile Zola, 1868]



            Essa obra de Zola foi influenciada por Claude Bernard a Introdução ao estudo da medicina experimental. Bernard quis desvendar o corpo humano e Zola a sociedade. A falta de equilíbrio e de livre arbítrio são comuns nessas obras. Os personagens marginalizados são obras do determinismo criadas por Hippolyte Taide, que dizem ser o homem, determinado pelo meio em que nasce pela raça (hereditariedade) e pelo momento histórico em que vive. Outros ideais se fortaleceram com o aprimoramento das obras naturalistas e nelas foram inseridas, como por exemplo, o evolucionismo de Darwin, que desenvolve a teoria de que o homem evolui por um processo de seleção natural contrapondo-se diretamente ao criacionismo.

            O materialismo histórico de Karl Marx e Engels que dizia: “O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual”. O positivismo corrente desenvolvido pelo filósofo francês Auguste Comte, que só aceita as relações com o real-sensível. E acreditava como a ciência para com seus objetos, que a sociedade era regida por leis e que encontrando essas leis, como na ciência, poder-se-ia ordenar a sociedade e levá-la ao progresso.



3. Reflita sobre as inovações no âmbito da percepção literária, promovidos pela estética parnasiana e simbolista.





            Na revista Biblioteca entre Livros nº 10 da editora Duetto, traz a seguinte pergunta: Baudelaire e Flaubert: Pré-machadianos? Refletindo sobre está aparente antagônica pergunta, podemos entender em que a estética parnasiana e simbolista na Europa influenciou na percepção literária de Machado de Assis de outros escritores.



            O realismo na França surgiu por causa da evolução científica na Europa, e com todo esse afã de ciência, de pesquisas, de progresso, não se aceitava mais o idealismo romântico, que segundo os críticos, descambava para o sentimentalismo fantasioso e doentio. Surge então com Flaubert e depois com Balzac e Zola, um movimento anti-romântico, a que se deu o nome de realismo.

            Esta reação ao romantismo se alinha com a percepção da sociedade dominante na burguesa da época de Machado que demolia, e em que Baudelaire e Flaubert convergiam com a proposta literária de Machado :



Não se trata, portanto, apenas de uma visão crítica sobre o Brasil; o que as Memórias Póstumas apresentam é também algo mais abrangente: através da experiência brasileira, o romance fornece uma perspectiva crítica sobre a civilização moderna no conjunto. Nisso Machado se alinha com outros grandes escritores da segunda metade do século XIX, como Flaubert e Baudelaire, que de maneiras diversas, realizaram em suas obras uma sondagem profunda da derrocada da ordem liberal burguesa” [OTSUKA, 2011]

           

            Estas inovações na estética realista em geral e suas correntes, promoveram no âmbito da percepção literária uma libertação deste sentimentalismo fantasioso e doentio em que vivia a sociedade. O autor não deveria ainda interferir nos seus personagens, defendendo-os, ou atacando-os, mas simplesmente colhê-los no seu próprio ambiente e apresentá-los com “vida própria” através de uma perfeita caracterização física e psicológica.



            O parnasianismo “arte pela arte” é um dos princípios deste estilo, ou seja, a concepção de que a arte deve estar descompromissada da realidade, procurando atingir, sobretudo, a perfeição formal. A objetividade temática surge como negação do sentimentalismo romântico, buscando atingir a impassibilidade e a impessoalidade. Esta corrente literária É a manifestação poética do Realismo, embora, ideologicamente, não mantenha pontos de contato com ele; mesmo assim, pode ser considerada poesia anti-romântica.



            O simbolismo por sua vez, simbolizou subjetivamente em seus personagens a decadência em que vivia a sociedade burguesa. Reagindo ao positivismo e ao materialismo da época, o Simbolismo busca redescobrir e valorizar o mundo interior do homem. A atitude do poeta é agora subjetiva, bastante semelhante à dos românticos; porém os simbolistas vão mais profundamente, chegam ao subconsciente e ao inconsciente e lá se deparam com sensações além da explicação lógica. Neste caso, o leitor de um texto simbolista deve-se deixar levar pelas sugestões que o poema provoca em vez de tentar entendê-lo. Desta feita, o texto simbolista apresenta ambiguidade em que as palavras transcendem o significado; apela para os sentidos e apresenta a sinestesia que cria uma relação entre duas percepções pertencentes a diferentes domínios de sentidos.



Bibliografia



1.    COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.

2.    ZILBERMAN, Regina e SILVA, Ezequiel Theodoro da. Literatura e pedagogia. Ponto & Contraponto. São Paulo: Global, 2008.

3.    GLEDSON, John. Machado de Assis: impostura e realismo: uma reinterpretação de Dom Casmurro. São Paulo: SCHWARCZ LTDA, 2005.

4.    BERNARDO, Gustavo. O problema do realismo de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

5.    ASSIS, Joaquim Maria Machado – Memórias Póstumas de Brás Cubas – São Paulo – Saraiva – 2008.

6.    ZOLA, Émile – Germinal – Cia das Letras -10ª Reimpressão - São Paulo 2008

7.    GUIMARÃES, Hélio de Seixas – Os Leitores de Machado de Assis – O romance machadiano e o público de Literatura no século 19 – São Paulo – Nankin, 2004.

8.    Biblioteca entre Livros – Machado Imortal - nº 10 da editora Duetto – 2011.

9.    ZOLA, Emile. Thérèse Raquin. Tradução Joaquim Pereira Neto. 2. ed. revisada. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.

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