Estudo Dirigido Literatura Brasileira.
Estudo Dirigido
Discorra sobre a
noção de Realismo de Machado de Assis e a concepção de leitor na obra desse
autor.Com
seus contos, Machado de Assis passa a integrar a brilhante tradição de
contistas da Literatura Ocidental, como o russo Anton Tchecov ou o francês Guy
de Maupassant que, a partir do final do século XIX, escreveram narrativas
curtas retratando momentos especiais, "fatias de vida" reveladoras do
cotidiano e da psique de homens comuns. Machado de Assis fez do conto um
veículo perfeito para realizar sua concepção muito particular do que seria o
Realismo na Literatura.
Machado atinge o ponto mais
alto da prosa realista, e que dessa forma o escritor alcança uma superioridade ao realismo da
época. O autor pratica um realismo de sondagem moral, enquanto os outros
realistas do período faziam uma ficção de sondagem apenas naturalista. (BOSI,
2004)
Nessas narrativas
curtas, descobrimos os mesmos temas e os procedimentos literários (ainda mais
depurados) que fazem dos romances de Machado de Assis pontos cardeais de nossa
Literatura. Ora, se inicialmente (como em Dom Casmurro) pensamos ser a questão
central do conto um dado de enredo (o adultério), logo percebemos o interesse
real do escritor: deslocar nossa atenção para o efeito que esse dado provoca na
vida interior do personagem.
Podemos perceber que
boa parte dos contos (e da obra literária) de Machado de Assis reflete o tenso
diálogo entre o social e o individual que está por trás da passagem da estética
romântica para a estética realista. O escritor, avesso a classificações e
conclusões acabadas, preferiu, por meio de suas histórias, refletir
criticamente acerca dos impasses da Literatura e do homem de sua época.
Sobre os mecanismos de
opressão podemos perceber que a intenção do autor em analisar as cruéis
relações de dominação entre seres iguais, todos subjugados por um sistema
político e social marcado pelo autoritarismo, mas que não hesitam em reproduzir
e legitimar a opressão de que são vítimas.
A arte deixou de ser
apenas um espaço de evasão e também incluiu em suas funções a possibilidade da
tomada de consciência por meio do distanciamento do objeto artístico. Quando
Machado de Assis dialoga com o leitor, seja para comentar o teor de um capítulo
ou para antecipar um acontecimento que só concretizar-se-á num momento
posterior, está rompendo a linearidade narrativa e içando o leitor a outro
plano. Assim, antecipa a atitude autocrítica dos modernistas.
A discussão sobre os
procedimentos de construção do texto deixa claro que o romance não pretende
iludir o leitor, tratando a obra como uma realidade aparente. Ao contrário,
esta postura lança uma espécie de pacto entre o leitor e o narrador: “eu sei
que você está lendo e você sabe que eu estou escrevendo”. Ambos sabem que
aquela é uma obra de ficção.
Para Barthes (1999), o
“texto de fruição” provoca desconforto, uma crise na relação com a linguagem,
pois leva o leitor a questionar seus valores sociais e culturais. Enquanto
alguns apenas passam as páginas em busca da sucessão de acontecimentos a fim de
se deparar com o grand finale, outros
sabem que uma obra é apenas o início de uma série de reflexões. O final não
constitui o encerramento de um ciclo. Não há uma resposta a ser encontrada, mas
infinitos caminhos.
...leiam
depressa, por fragmentos, um texto moderno, esse texto torna-se opaco, perempto
para o nosso prazer: vocês querem que ocorra alguma coisa, e não ocorre nada;
pois o que ocorre à linguagem não ocorre ao discurso: o que “acorre”, o
que “se vai”, a fenda das duas margens,
o interstício da fruição, produz-se no volume das linguagens, na enunciação,
não na seqüência dos enunciados: não devorar, não engolir, mas pastar, aparar
com minúcia, redescobrir... (BARTHES, 1999, p.20)
Talvez o que se possa
guardar de mais significativo da leitura dos contos de Machado de Assis é a
impossibilidade de respostas prontas e acabadas diante do mistério essencial
que habita o ser humano e que responde pela motivação de muitos de seus atos.
Em uma época de teorias
científicas e sociais que pretendem dar conta do real, como é o momento do
Realismo na Literatura ocidental, a voz dissonante do genial Machado de Assis
ousa abdicar das certezas e instaurar o universo do desconhecido que preside a
alma humana.
Levando em
consideração o romance Germinal, de Zola, como também algumas apreciações
criticas referentes a estéticas naturalista, disserte sobre os princípios
artísticos dessa escola.
Denomina-se
naturalismo o movimento artístico que se propõe empreender a representação fiel
e não idealizada da realidade, despojada de todo juízo moral, e vê a obra de
arte como uma "fatia da vida". O ideólogo da estética naturalista foi
o escritor francês Émile Zola que afirma:
O
progresso acelerado das ciências naturais, o amadurecimento da ideologia
positivista e a culminação do realismo abriram caminho, no final do século XIX,
para a afirmação da estética naturalista. (ZOLA, 1880)
Comparando-o com
as obras literárias observamos de imediato que o mesmo trata de centraliza-se
no movimento realista - naturalista. A objetividade com relação às tomadas de
decisões, os ideais propostos que eram votados para a massa popular, deixa bem
claro essa verdade.
A obra literária
naturalista adotou teorias científicas, como a da hereditariedade, para
explicar os problemas sociais, contemplados com acentuado pessimismo, e a
infelicidade dos indivíduos. Os romances naturalistas se destacam, também, pela
franqueza sem precedentes com que tratam os problemas sexuais. Na técnica e no
estilo, os naturalistas levaram às últimas conseqüências os postulados do
realismo. Acima de tudo, buscaram dar o máximo vigor aos métodos de observação
e documentação, e tornaram mais precisa a reprodução da língua falada. Na
criação do personagem, o naturalismo optou pela generalização de casos
excepcionais e escolheram psicopatas e alcoólatras para protagonizar seus
romances, marcados por situações extremas de degenerescência e miséria.
Podemos falar
também que o filme, assim como nas obras naturalistas a razão prevalecia muito
às emoções, a arte de modificar a realidade era vista injustamente pelo poder
dominante. Os próprios funcionários da mina sempre questionavam seus direitos
perdidos, porque para a classe burguesa isso não valeria de nada. Seus
objetivos financeiros estavam acima dos propósitos dos trabalhadores.
As personagens
sofrem influências dos intelectuais da Europa, o simples modo de vida da classe
operária muda a partir desses novos ideais: teorias cientificistas,
positivismo, evolucionismo e o determinismo.
Os escritores
desse período procuram descrever com maior realidade os costumes e as relações
entre os seres humanos. O que prevalecia na época era a dominância de uma
classe sobre a outra. A cidadania ameaçada pelas relações de produção fizera
com que um grupo social não mais aceitasse passar necessidades e privações pela
falta de igualdade. Aqui percebemos uma característica típica das obras
realistas-naturalistas: a burguesia dominando sobre o assalariado.
Os senhores eram
proprietários da força de trabalho (dos escravos), dos meios de produção
(terras, pão, minas, instrumentos de produção) e do produto do trabalho.
A burguesia
possui as minas ou as fábricas, os meios de transportes, as terras, os bancos
etc. O trabalhador não é obrigado a ficar sempre na mesma terra ou na mesma
situação: “ele é livre” para não trabalhar, mas na prática precisam trabalhar
para não morrer de fome.
Concluímos que
os realistas eram anti-românticos, objetivos e racionalistas. Postulava a
primazia da razão sobre o sentimento, fato esse percebido nas relações
amorosas. A mulher era símbolo de prazer e não de amor. Situações de venda e trocas
colocavam-a igual ou menor a mercadoria.
Reflita sobre as
inovações, no âmbito da recepção literária, promovidas pelas poéticas
parnasianas e simbolistas.
Nas últimas
décadas do século XIX, várias correntes literárias inovadoras, entre elas o Parnasianismo apresentou parâmetros de criação artística
que se contrapunham aos então já desgastados valores românticos. Enquanto na
prosa o Realismo e o Naturalismo apresentavam novas maneiras de produzir
ficção, calcadas na análise objetiva da realidade social e humana, no âmbito da
poesia o movimento parnasiano voltava-se principalmente para o culto da forma, afastando-se
dos problemas sociais do período. A
busca da objetividade temática e o culto da forma são as mais importantes características do Parnasianismo. Essa poética da impessoalidade era reforçada pelo gosto da
descrição e do rigor formal. O ideal da "arte pela arte" resultou em
acentuada preocupação com a versificação e a metrificação, pois se acreditava
que a Beleza residia também na forma.
O apego dos parnasianos ao rigor
gramatical e ao rebuscamento da linguagem teria contribuído segundo Antonio
Candido, "para lhes dar voga e credibilidade, pois facilitava o
entrosamento com as aspirações dominantes da cultura oficial".
"O Parnasianismo é
o estilo das camadas dirigentes, da burocracia culta e semiculta, das
profissões liberais habituadas a conceber a poesia como ‘linguagem ornada’,
segundo padrões já consagrados que garantam o bom gosto da imitação”
Alfredo BOSI. História concisa da
literatura brasileira. 3ª ed. São Paulo: Cultrix, 1985.
O fato de a Academia Brasileira de Letras (1897) apresentar adeptos
do Parnasianismo entre a maioria de seus fundadores pode também ter colaborado,
segundo vários críticos, para a "oficialização" e para a extensão
cronológica da escola, cujo prestígio enfraqueceu apenas depois dos duros
ataques desferidos pelos poetas modernistas. Hoje, porém, as críticas de autores e pensadores ligados ao Modernismo
estão sendo revistas, e o maior distanciamento permite avaliar, talvez com mais
imparcialidade, as qualidades e os problemas do Parnasianismo.
A publicação de Broquéis e Missal
(1893), de João da Cruz e Souza, inaugura este movimento Simbolista, que se
caracteriza por melancolia, gosto dos ritmos fluidos e musicais, incluindo o
uso de versos livres; uso de imagens incomuns e ousadas. O cuidado na evocação
das cores e de seus múltiplos matizes mostra, também, uma influência do
Impressionismo.
No Brasil, onde o Parnasianismo
dominava o cenário poético, a estética simbolista encontrou resistências, mas
animou a criação de obras inovadoras. Desde o final da década de 1880 as obras
de simbolistas franceses, entre eles Baudelaire e Mallarmé, e portugueses, como
Antonio Nobre e Camilo Pessanha, vinham influenciando grupos como aquele que se
formou em torno da Folha Popular, no Rio, liderado por Cruz e Souza e integrado
por Emiliano Perneta, B. Lopes e Oscar Rosas. Mas foi com a publicação, em
1893, de Missal, livro de poemas em prosa, e Broquéis, poemas em versos, ambos
de Cruz e Souza, que principiou de fato o movimento simbolista no país - embora
a importância desses livros e do próprio movimento só tenha sido reconhecida
bem mais tarde, com as vanguardas modernistas.
Entre as inovações
formais que caracterizam o Simbolismo estão
a prática do verso livre, em oposição ao rigor do verso parnasiano, e o uso de
"uma linguagem ornada, colorida, exótica, poética, em que as palavras são
escolhidas pela sonoridade, ritmo, colorido, fazendo-se arranjos artificiais de
parte ou detalhes para criar impressões sensíveis, sugerindo antes que
descrevendo e explicando", de acordo com Afrânio Coutinho.
Traços formais característicos do Simbolismo é a musicalidade, a
sensorialidade, a sinestesia (superposição de impressões sensoriais). O
antológico poema Antífona, de Cruz e Souza, é exemplar nesse sentido; sugestões
de perfumes, cores, músicas perpassam todo o poema, cuja linguagem vaga e
fluida é plena de recursos sonoros como aliterações e assonâncias.
É importante lembrar
que as correntes simbolistas e parnasianas coexistiram e se influenciaram
mutuamente; assim, há na obra de adeptos do Simbolismo traços da estética parnasiana e, do mesmo modo,
impregnações simbolistas na obra de poetas ligados ao Parnasianismo, como
Francisca Júlia.
Referências Bibliográficas
BARTHES,
Roland. Aula. São Paulo:
Cultrix, 1999.
BOSI, Alfredo. A História Concisa da Literatura Brasileira. 44. Ed. São
Paulo: Cultrix, 2004.
Wanderson Vicente da Silva
4° Período-Letras
Literatura Brasileira II
MOISES, Massaud. Literatura Brasileira através de Textos. 24. Ed. São Paulo:
Cultrix, 2004.
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